Garotinho Remelento X Menininha Cheirosinha
Que o Rio é uma contradição todos sabem, algo que se intensifica à beira-mar. Favelados e pessoas de classes mais elevadas disputam as calçadas da Zona Sul: Uns estão ali para pedir, outros para ignorar (por medo, ou por desprezo mesmo). Às vezes uma alma bondosa resolve dar um trocado (afinal, é para o leite das crianças).
O que vem me chamando a atenção são as crianças. Estão jogadas em todas as esquinas da cidade, do Méier ao Leblon, e já nem pedem mais nada, apenas dormem. Acho que estão cansadas mesmo. Cansadas de não poderem ser crianças, de não terem alguns direitos que deveriam ser universais.
Uma vez, um grande homem disse que o nível de civilidade de um povo se mede a partir da forma como ele trata suas crianças. No Rio, algo estranho vem acontecendo. Enquanto proliferam grifes de luxo voltadas para o público mirim (qual marca ainda não tem sua linha infantil?), menininhos esfomeadas caem nas esquinas.
Ao invés de continuarmos pensando esse não ser um problema nosso, mas sim das autoridades, as próprias marcas infantis de luxo poderiam, juntas, criar um projeto voltado para as crianças que estão no outro extremo da sociedade. Isso seria além de algo lindo, uma bela ação de marketing.
Texto e montagem por Letícia Marques
